A Ética do Cuidado e a Abordagem Casuística
A ÉTICA DO CUIDADO
ORIGENS DA ÉTICA DO CUIDADO
A ética do cuidado é outra possível abordagem teórica no âmbito da bioética. Sua origem tem relação principalmente com estudos feministas, como os efetuados por Nel Nodding, Virginia Held, Carol Gilligan e Annette Baier. As teorias dessa linha surgem como um contraponto às éticas morais tradicionais, as quais, segundo essas teorias, seguiriam um raciocínio tipicamente masculino.
A moral masculina é construída, sob tal ótica, a partir de questões de justiça, parcialidade e direito, mas desconsidera o ponto de vista moral feminino, que tem como base as relações íntimas entre as pessoas e os valores dessas relações íntimas, como a compaixão e a fidelidade.
A ÉTICA DO CUIDADO
De acordo com os teóricos da ética do cuidado, o desenvolvimento moral ocorre a partir de associações e relações empáticas com as outras pessoas, podendo ser considerada como uma ética mais reflexiva e filosófica, se comparada às estudadas anteriormente. Existe, portanto, uma diferenciação entre a tendência ética e moral masculina e a tendência ética e moral feminina, sendo esta mais voltada ao cuidado.
Um ponto importante dessas teorias é a valorização da emoção. Nas teorias éticas tradicionais, como a do utilitarismo e da obrigação, a emoção é vista até mesmo como obstáculo à uma ação moral e correta. Na ética do cuidado, a emoção é um produtor da moral; sendo assim, agir sem qualquer fundamento emocional constituiria uma deficiência moral.
A ética do cuidado não necessariamente nega as éticas tradicionais, mas sim constitui complemento a elas, com a inserção de outro ponto de vista às teorias tradicionais. Para a ética do cuidado, na relação médico-paciente, os cuidados médicos devem ser realizados com atenção às necessidades do paciente, devendo ser uma relação próxima, e não distante e apenas baseados em direitos.
Há críticas a essa vertente teórica, como a falta de uma estruturação de conceitos mais específicos e bem colocados para dar corpo à teoria, além de que ela poderia fortalecer os papeis tradicionais que são impostos à mulher na sociedade, reforçando a diferenciação entre o que é típico da personalidade feminina e da masculina.
ABORDAGEM CASUÍSTICA
A abordagem casuística exerceu muita influência durante o período da Idade Média e no início da era Moderna, tendo sido revigorada recentemente. Surgiu a partir de obras de Albert Jonsen e Stephen Toulmin.
A casuística é a aplicação dos princípios morais à observação dos casos concretos para que sejam determinados os princípios morais. O raciocínio casuístico ocorre do caso concreto para a criação do princípio ou da norma. Para os casuístas, a definição da moralidade ou não de um ato somente poderá ser feita a partir da análise do caso concreto.
Para a construção de um raciocínio casuístico, em um primeiro momento, ao se deparar com um caso concreto, o sujeito faria uma descrição detalhada do caso, identificando todos os indivíduos envolvidos e os motivos, razões e passado de todos esses agentes, que fizeram com que se encontrassem na situação do dilema do caso concreto, identificando os tópicos de discussão que sejam importantes nessa situação e, a partir dessa identificação, seria realizada a subsunção desse caso concreto em um acervo de respostas de outros casos concretos, paradigmáticos, observando os pontos convergentes e divergentes entre eles, efetuando um raciocínio analógico de comparação entre o caso concreto analisado e o acervo de casos paradigmáticos.
Sendo assim, é realizada uma descrição e análise detalhada de um caso, por meio da utilização de paradigmas, taxonomia e analogia.
Portanto, o acerto moral sobre a ação será pautado no caso concreto, e não em princípios e abstrações. Estes poderão ser utilizados na casuística para nortear a análise do caso, mas jamais serão independentes em relação a este, muitas vezes sendo, inclusive, desnecessários para a aferição da moralidade do ato. Para os casuístas, em determinadas situações é possível chegar a uma resposta sobre o caso concreto apenas observando cada um dos casos.
O raciocínio ético casuístico assemelha-se ao utilizado no sistema jurídico anglo-saxão da common law, o qual é pautado pela utilização dos precedentes como parâmetro para os julgamentos.